Especialistas dividem opiniões sobre a possível decisão da OMS de destruir as últimas amostras vivas do ‘O. variolae’ cultivadas em laboratório. Os estoques poderiam ser usados tanto para novas pesquisas quanto como arma biológica.
Por: Sofia MoutinhoAté maio deste ano, integrantes da OMS devem se reunir para marcar uma data para a destruição dos últimos estoques de vírus da varíola. (foto: Fred Murphy/ CDC; montagem: Sofia Moutinho)
Volta a ser discutido o destino dos dois últimos estoques do vírus da varíola, doença que matou 500 milhões de pessoas somente no século 20. Depois de vinte anos de adiamento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deve fazer uma assembleia em maio para decidir se vai ou não marcar uma nova data para a destruição das amostras, que estão sob seu controle em laboratórios nos Estados Unidos e Rússia.
A varíola foi erradicada em 1980. Na ocasião, representantes de diversos países se pronunciaram a favor de exterminar todos os vírus Orthopoxvirus variolae vivos em laboratórios. Apenas dois estoques foram preservados: um no centro russo de pesquisa Vector Institute e outro no Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América. Representantes dos dois países alegaram que as amostras deviam ser preservadas para pesquisas de novas vacinas e medicamentos.
Em 2007, a OMS iniciou uma revisão das pesquisas feitas com o vírus in vitro desde 1999. Os resultados preliminares, apresentados em outubro do ano passado, apontam muitos avanços, como o sequenciamento de 48 cadeias de genes do vírus e o desenvolvimento de novas vacinas e métodos de diagnóstico.
Por outro lado, o relatório oficial, apresentado em janeiro, indica que estão atrasadas as pesquisas sobre o modelo de infecção da chamada varíola do macaco, variante mais branda da doença que, apesar do nome, é transmitida por roedores.
Segundo o virologista estadunidense Jack Woodall, professor aposentado do Instituto de Bioquímica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, esta não seria uma razão para se manter os estoques de O. variolae. “O vírus utilizado nas vacinas atuais de varíola, o Vaccinia, também protege os humanos contra a varíola do macaco”, explica.
Para o pesquisador, a destruição dos estoques é uma questão de segurança pública. “Os perigos são maiores do que os benefícios de continuar com as pesquisas”, diz ele. “Os laboratórios que ainda estão trabalhando com o vírus podem ser de alta biossegurança, mas nada evita que um pesquisador se contamine lá dentro e leve a doença para casa, iniciando uma epidemia.” Woodal destaca que essa situação não é apenas hipotética e já aconteceu em 1977.
Mais informação:
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2011/02/virus-da-variola-na-mira
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