Divulgação do primeiro genoma criado em laboratório é alvo de debates entre cientistas
Edição Online - 21/05/2010
Imagem de microscopia eletrônica que mostra a bactéria com genoma sintético se replicando
Para o pai do genoma sintético, o ousado e polêmico cientista Craig Venter, o trabalho é um marco na biologia e vai abrir caminho para o desenho de micróbios úteis aos homem, capazes de, por exemplo, produzir vacinas e biocombustíveis. "Trata-se de um avanço tanto filosófico como técnico", disse Venter, que, anos atrás, já havia se tornado famoso ao liderar um projeto privado de sequenciamento do genoma humano. Na entrevista que deu para divulgar o trabalho, ele disse que a célula sintética da bactéria é "a primeira espécie que se autorreplica do planeta cujo pai é um computador". O genoma criado em laboratório é quase igual ao DNA original da própria bactéria: tem aproximadamente 400 genes, 100 a menos do que tem naturalmente a Mycoplasma mycoides. Genes que não eram considerados esseciais para o micróbio foram descatados pelos cientistas em seu trabalho de montar um genoma sintético.
Pesquisadores não ligados à pesquisa desenvolvida por Venter se dividiram em relação à importância do DNA sintético que comanda a vida de uma bactéria. Alguns teceram loas ao feito. Outros tentaram relativizá-lo. Esse foi o caso do Prêmio Nobel de Medicina de 1975, o americano David Baltimore, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). "Para mim, Craig exagerou um pouco a importância do trabalho", dissa Baltimore ao jornal The New York Times. Ele acredita que a criação do genoma sintético foi mais "tour de force técnico", uma questão de escala, do que uma descoberta científica revolucionária. "Ele não criou vida, apenas a imitou". De qualquer forma, é inegável que o trabalho de Venter sinaliza um aumento da capacidade de o homem manipular o DNA de organismos. Por tratar de um tema polêmico, capaz de criar novos dilemas morais, o artigo científico de Venter na Science levou ontem mesmo o presidente norte-americano Barack Obama a encomendar um estudo à comissão de bioética da Casa Branca, que terá seis meses para produzir um relatório sobre as implicações éticas da biologia sintética.
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